segunda-feira, 2 de junho de 2008

A linguagem da natureza

Eu ensino, em meu trabalho, que a natureza tem um idioma próprio, e que a maioria de nós, que vivemos neste imenso jardim de gigantesca biodiversidade, não sabemos nos comunicar com ela.
Queremos entender a partir de nossos padrões pré-definidos, que muitas vezes nos confundem. E somos absorvidos por nossas crenças, que acabam limitando as vias de comunicação com os reinos naturais.
Nosso desejo é entendê-la, porém muitas vezes somos motivados pelo bom resultado que ela pode nos dar, esquecendo-nos de nutri-la.
Como vamos reconhecer a natureza se não conseguimos ouvir o que ela tem a nos ensinar? Preservar e cuidar requer, de nossa parte, um verdadeiro reconhecimento da sabedoria que ela é.
Em um mundo encantado, bem diferente do nosso, as árvores falam e andam, os animais se reúnem em um grande conselho para discutir suas vidas. Nas ruas da cidade de São Paulo, as árvores são silenciosas, ficam nas praças, nas calçadas e em pequenos corredores aonde pessoas e carros passam milhares de vezes.
Suas raízes viram depósitos da sujeira do consumismo humano; seus galhos, que ainda conservam espaços para ninhos de pássaros, como por exemplo, para o sabiá laranjeira, pouco são observados.
Com o interesse de engaiolar pássaros, alguns moradores locais ainda procuram os ninhos desta ave de tão belo canto.
Mas como mudar tudo isto?

A ciência trabalhou para classificar as plantas com o objetivo de serem melhor estudadas e o conhecimento popular e tradicional deu nome para as ervas identificando algumas de suas características, como exemplo: pau-d`alho, unha-de-gato, mamica-de-cadela, fel-da-terra, cipó-cruz, bolsa-de-pastor, umbigo-de-bezerro, pau-ferro.
Nomes que podem dar indicação de seus princípios para tratamento: figatil, anador, novalgina.
Outros que são de origem tupi ou guarani: andu, mbira, pacova, mururé, pariri, urucu, ananás, catuari, ambaí, cipó sucuriju, caa peba, caa yupi,catuaba, marapuama, guapoy ici.
Nomes religiosos: erva de Santa Luzia, erva de São João, espinheira-santa, pau-santo, figueira-do-inferno, garra-do-diabo.
Os pejorativos e cheios de malícia: cabeça-de-negro, catinga-de-mulata, pau-de-resposta, malícia-de-mulher, casca-da-virgindade.

Todos estes meios são caminhos através dos quais se busca entender as plantas e, neste aspecto, desenvolvo um trabalho que é compreender a linguagem silenciosa de um vegetal.

Você já ouviu uma árvore falar?

Suas sementes, suas raízes, seus galhos, suas cascas, suas folhas, suas flores e suas sementes falam em silêncio, para o observador atento.

Olha aí o Jatobá!

Este belo exemplar de Hymenaea courbaril L., ou seja, burandã, jataí-açu, jutaí ou mais conhecido como Jatobá, encontra-se plantado no início da rua Francisco Dias, esquina com a avenida do Cursino.
Esta farinheira é uma árvore que atinge seus 20 metros de altura e na região amazônica é ainda maior.
Ela nos nutre com seus frutos, que nesta foto se encontram ainda verdes. Sua resina é utilizada até para restauração de obras de arte, além de trazer vários benefícios, como tratamento de males físicos.

Existe gente boa!
Quando eu estava fotografando, o amigo ambulante se aproximou. Na nossa conversa, fiquei sabendo que o Jatobá tinha enfraquecido e quase morreu, só voltando depois que ele e alguns outros colegas de profissão colocaram nutrientes na terra.

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